DESPEDIDA



Março de 2006




Uma harpa envelhece.
Nada se ouve ao longo dos canais e os remadores
sonham junto às estátuas de treva.
A tua sombra está atrás da minha sombra e dança.
Tocas-me de tão longe, sobre a falésia, e não sei se
foi amor.
Certo rumor de cálices, uma súplica ao dealbar das
ruínas,
tudo se perdeu no solitário campo dos céus.
Uma estrela caía.
Esse fogo consumido queima ainda a lembrança do
sul, a sua extrema dor anoitecida.
Não vens jamais.
O teu rosto é a relva mutilada dos passos em que me
entristeço, a absoluta condenação.
Chove quando penso que um dia as tuas rosas floriam
no centro desta cidade.
Não quis, à volta dos lábios, a profanação do jasmim,
as tuas folhas de outubro.
Ocultarei, na agonia das casas, uma pena que esvoaça,
a nudez de quem sangra à vista das catedrais.
O meu peito abriga as tuas sementes, e morre.
Esta música é quase o vento.


José Agostinho Baptista, Paixão e Cinzas



15 Comments:

Blogger wind said...

Mais um belíssimo poema que desconhecia. A foto é linda:) beijos*****

10:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uma belíssima foto e um belo poema em que a harpa terá, certamente, o seu lugar. Bjs.

10:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fotografia e poema: fabulosos!

Bjos.

12:35 da manhã  
Blogger hfm said...

A fotografia é muito boa, o poema não lhe fica atrás. Bfs.

12:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E ao que já foi escrito nada a acrescentar.Excelente post! Belíssima foto, Eli. Parabéns.

Bfs. Bjos.JP-

*

12:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que maravilha de poema, está guardado e com certeza renderá muitas lidas, semente que vai florescer no meu coração. A foto então, fiquei encantada, pombos são meus pássaros preferidos. Amei tudo, como sempre, doce amiga.
Que teu final de tarde seja muito iluminado e feliz. Beijos e meu carinho.

6:54 da tarde  
Blogger agua_quente said...

Um poema belíssimo. Mas porque é que fico com um aperto no peito de cada vez que o releio?
Beijos e bom fim de semana

9:26 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira said...

o vento diz que nada se despede.....aqui é-se....!

um beijo.

9:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

como dói esse poema...

vim me por em dia, querida. e matar a saudade de vc. ;)

um beijo enorme, daqui,

Márcia

9:56 da tarde  
Blogger VdeAlmeida said...

O Agostinho Baptista tem o dom de, mesmo na sua tristeza, nos encantar com o maravilhoso da poesia.
Beijinho meu. Outro para a M. :-)

10:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vim desejar um lindo final de semana, repleto de serenidade e muita alegria de viver. Beijos e flores da amiga que te admira muito.

2:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um belíssimo conto e linda imagem. Assim é a Elis Regina, tudo de bom. Um beijo.

2:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

de longe nos tocamos, através das imagens e das palavras - e morremos todos os dias
sugestivo post
bom domingo
bj carlos p f

10:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eli, está melhor?

Faço a visita leio ripo algumas fotos :=)e tenho muitas perguntas....

Um beijinho do Rubem - um dia destes também com blog ahahahahah :))))))))))

11:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A tristeza às vezes é de uma beleza inquestioável! E a iamgem só valoriza a poesia!
Beijos, viu? (estou numa fase complicada... virei internauta de fim de semana. mas cheia de saudade)

3:02 da tarde  

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