CORAÇÃO SEM IMAGENS



13-3-2006




ao António Ramos Rosa


    Deito fora as imagens.
    Sem ti, para que me servem
    as imagens?

    Preciso habituar-me
    a substituir-te
    pelo vento,
    que está em qualquer parte
    e cuja direcção
    é igualmente passageira
    e verídica.

    Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
    numa casa deserta,
    ao trémulo vigor de todos os teus gestos
    invisíveis,
    à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
    a não ser eu.

    Serei feliz sem as imagens.
    As imagens não dão
    felicidade a ninguém.

    Era mais difícil perder-te
    e, no entanto, perdi-te.

    Era mais difícil inventar-te,
    e eu te inventei.

    Posso passar sem as imagens
    assim como posso
    passar sem ti.

    E hei-de ser feliz ainda que
    isso não seja ser feliz.


    Raul de Carvalho, Obras de Raul de Carvalho


16 Comments:

Anonymous Anónimo said...

" E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz."

Doeu-nos, amiga. Doeu-nos.
Abraço fraterno a acompanhar teu dia, que, fazemos força, desejamos azulão. "-"

8:49 da manhã  
Blogger wind said...

A felicidade na infelicidade da recordação.Bela imagem. beijos*****

10:04 da manhã  
Blogger Barbara said...

Estou de coração abastecido. Obrigada!

11:45 da manhã  
Blogger hfm said...

Não conhecia e gostei muito de ler.

12:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muito da foto. Não conhecia o poema doo Raul de Carvalho e devo dizer que gostei. "Hei de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz", adorei... Querida Tecum, estou com muita saudade de você, não vens mais me visitar, será que me esqueceu? Beijos e meu carinho, sempre.

2:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Imagem feliz para versos de felizes imagens - não conhecia.

Bj.

3:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, amiga Eli! Interessantíssima a sua foto, gostei. Além de suas fotos o que mais aprecio aqui é a oportunidade que me concede de conhecer poetas outros que não os sabia. Obrigada! Beijos

9:49 da tarde  
Blogger Natureza said...

bonjour.
A frase: "E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz." é como um mundo imperfeito.
beijos

10:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

e a nossa capacidade de adaptação? e de fazer versos com palavras que já não reconhecemos, por terem perdido o brilho?
bj carlos p f

11:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei de ler Raul de Carvalho. Pouco habitual vê-lo em blogs.
Fotografia muito adequada, Eli.
Como sempre, agradeço-lhe estes momentos, nunca são tempo perdido.

Bom dia.

BJ. JP-

12:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sinto tua falta. Estou com muita saudade. Beijo, minha amizade e meu carinho, sempre. Deixo um ramalhete de mimosas para enfeitar teu dia.

1:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Como são belas as palavras na boca de alguns!

2:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito belo, Eli, muito mesmo! Quando nós teremos a honra de ver um escrito teu hein? Beijão e saudade.

7:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não conhecia o blog, não conhecia o poema, não conhecia o fotógrafo. Do 1º, gostei da criteriosa selecção de textos, do 2º, destaco e 2ª e última estrofes, do 3º, encantaram-me as imagens. Por tudo, obrigada. Voltarei!
Mª José da Conceição

2:29 da tarde  
Blogger greentea said...

lindo este poema!

N'O Amor nos Tempos do Cólera, de Garcia Marquez... ela dizia , quando perdeu o marido, que a´te doa amúos, das pequenas zangas do dia a dia e dos chinelos desarrumados na casa de banho , ela tinha saudades...

8:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

a clio andou por ali no seu tear supersónico:)

5:36 da tarde  

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