CORAÇÃO SEM IMAGENS
ao António Ramos Rosa
    Deito fora as imagens.
    Sem ti, para que me servem
    as imagens?
    Preciso habituar-me
    a substituir-te
    pelo vento,
    que está em qualquer parte
    e cuja direcção
    é igualmente passageira
    e verídica.
    Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
    numa casa deserta,
    ao trémulo vigor de todos os teus gestos
    invisíveis,
    à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
    a não ser eu.
    Serei feliz sem as imagens.
    As imagens não dão
    felicidade a ninguém.
    Era mais difícil perder-te
    e, no entanto, perdi-te.
    Era mais difícil inventar-te,
    e eu te inventei.
    Posso passar sem as imagens
    assim como posso
    passar sem ti.
    E hei-de ser feliz ainda que
    isso não seja ser feliz.
    Raul de Carvalho, Obras de Raul de Carvalho
16 Comments:
" E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz."
Doeu-nos, amiga. Doeu-nos.
Abraço fraterno a acompanhar teu dia, que, fazemos força, desejamos azulão. "-"
A felicidade na infelicidade da recordação.Bela imagem. beijos*****
Estou de coração abastecido. Obrigada!
Não conhecia e gostei muito de ler.
Gostei muito da foto. Não conhecia o poema doo Raul de Carvalho e devo dizer que gostei. "Hei de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz", adorei... Querida Tecum, estou com muita saudade de você, não vens mais me visitar, será que me esqueceu? Beijos e meu carinho, sempre.
Imagem feliz para versos de felizes imagens - não conhecia.
Bj.
Olá, amiga Eli! Interessantíssima a sua foto, gostei. Além de suas fotos o que mais aprecio aqui é a oportunidade que me concede de conhecer poetas outros que não os sabia. Obrigada! Beijos
bonjour.
A frase: "E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz." é como um mundo imperfeito.
beijos
e a nossa capacidade de adaptação? e de fazer versos com palavras que já não reconhecemos, por terem perdido o brilho?
bj carlos p f
Gostei de ler Raul de Carvalho. Pouco habitual vê-lo em blogs.
Fotografia muito adequada, Eli.
Como sempre, agradeço-lhe estes momentos, nunca são tempo perdido.
Bom dia.
BJ. JP-
Sinto tua falta. Estou com muita saudade. Beijo, minha amizade e meu carinho, sempre. Deixo um ramalhete de mimosas para enfeitar teu dia.
Como são belas as palavras na boca de alguns!
Muito belo, Eli, muito mesmo! Quando nós teremos a honra de ver um escrito teu hein? Beijão e saudade.
Não conhecia o blog, não conhecia o poema, não conhecia o fotógrafo. Do 1º, gostei da criteriosa selecção de textos, do 2º, destaco e 2ª e última estrofes, do 3º, encantaram-me as imagens. Por tudo, obrigada. Voltarei!
Mª José da Conceição
lindo este poema!
N'O Amor nos Tempos do Cólera, de Garcia Marquez... ela dizia , quando perdeu o marido, que a´te doa amúos, das pequenas zangas do dia a dia e dos chinelos desarrumados na casa de banho , ela tinha saudades...
a clio andou por ali no seu tear supersónico:)
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