A MÃO NO ARADO
Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará
Oh! como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh! como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão
ao longo do mar transbordante de nós
no demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua
É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solidário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã
Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente
Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente
Ruy Belo,
in Poemas de Ruy Belo
ditos por Luís Miguel Cintra
- Esteve:
A Mão no Arado
Voz: Luís Miguel Cintra - pode-se ouvir em http://tecum.multiply.com
19 Comments:
triste - a comentar posteriormente - triste
abraço cpfeio
Como é bonito!
É tão tristemente belo. Adoro este poeta e a voz do L.M. Sintra ainda dá mais força ao poema:) beijos*****
Ressalvo *Cintra:)
Recebi da queridíssima Márcia Maia, impedida, pelo capricho de umas letrinhas, de aqui escrever:
(ainda eu e as letrinhas....)
Amiga,
vou comentar aqui, again:
ah, como é bonito!
e essa foto casa à perfeição com esse poema meu( que fica sendo seu):
insólito
um lampião
acende o sol
no céu da tarde.
todos os beijos e mais um, querida,
Márcia
O poema, a imagem, a voz, tudo perfeito.
T., permita-me que leve esta fotografia, bela, entre as belas que por aqui vou apreciando.
Excelente a sua proposta para este fim de semana, que lhe desejo muito bom. A.C.S.
"Sagesse" de poeta: administrar a tristeza dos dias de amanhã.
Muito "belo", o poema. Beijos
"...É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro..."
Um partilha comovente, mas muito bela!
Grata por ela.
Um abraço carinhoso ;)
Uma partilha fabulosa. Grata por ela.
Um abraço carinhoso ;)
Não conhecia mas achei-o cheio de sapiência. BFSemana
Procuro «Paradoxes of Prosperity», encontro recanto azul, paradoxal prosperidade de sábado!
Sinceros cumprimentos ao autor.
William P.
Muito sábio, um pouco triste, belíssimo! E a voz de Luis Miguel Cintra dá-lhe o sentido exacto!
Beijos
Lindíssimo isso. O poeta sabe cuidar das coisas tristes e mágicas com suas palavras... Beijão e ótimo restinho de sábado procê...
Soube bem ouvir a declamação deste poema, um grande poema. Beijinhos.
Mais, muito mais, do que um BELO poema ; doravante jamais o lerei sem me ecoar a interpretação de Cintra.
Fabulosa a tonalidade da fotografia.
Triste, escrevem, e não é tristeza a «pequenina vida que se concede às unhas»?
Bjs. JP-
Parabêns! Linda Fotografia que tirou! Beijinho da Carolina.
P.S.-Foi esperta em ter escolhido essa imagem para a descrição...
'Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente'
Este quase grito do poeta dito por esta voz, transforma-se num duplo prazer...
E porque hoje é domingo, e já está quase no fim, desejo uma óptima semana. Bjs
O poema é lindo =)
Neste momento ando a reaprender a poesia, a ler outros poetas e não apenas que estudamos na escola... E é tão bom saber que nessa vastidão que é o mundo poético, encontramos sempre alguém que sente o mesmo que nós e que o expressa de forma tão estrondosa...
Um bom resto de semana =)
Bjnhs
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