Um dia vais pla rua como quem



Outubro de 2005




Um dia vais pla rua como quem
já não deseja nada deste mundo:
olhas pró céu, reparas no inferno
e todas as pessoas são iguais,
inocentes obstáculos povoando
a memória indelével. Continuas,
atravessas o parque e de repente
encontras o regresso já perdido
no dia do juízo. Fica aqui,
coisa inútil que alguém deixou arder,
resto de prata acesa em mil estilhaços
e espera pelo último semáforo,
pla última canção perto da noite
até que o vento seja o teu destino.


Fernando Pinto do Amaral, Pena Suspensa