OFERENDA



Bjorn Rorslett
Bjorn Rorslett



São rosas desfolhadas pela noite
as oferendas que faço ao meu amor.
São raivas soterradas as palavras
que segredo velando o meu amor.
Os gestos são de medo, os do afago.
E a secreta angústia do desejo
a porta que me fecha para a vida.

São rosas desfolhadas meu amor.
São raivas soterradas meu amor.

Amor de carne,
pasmo de sangue a revelar-me a ferida
na luta de encontrar para perder,
furor que me devolve corpo a corpo
ao espaço onde não ter é ter chegado,
de olhos fendidos e com dedos ocos,
em frente ao sonho sem saber sonhar.

Em ti, amor, procuro
e em ti, abraço o que me foge
pois bem sei, meu amor, amante amor
que ao nos amarmos nós queremos ser
de nós o que em vão ser nos destruísse.
E bem sei, bem sei, fêmea de mim,
que num e noutro só sabemos ver
o que de nós em nós não tem lugar.

E és para mim, bem sei, todo o mistério
e eu sou a busca dele que te procuro
pelo caminho que o teu corpo afirma.

Amor,
desgosto só de me não seres
que eu guardo e quero e peço
neste vão abraçar-te solitário
pra sem mim ir sugando a tua carne
pra sem ti ir fingindo a minha vida
- as oferendas que tive e desfolhei
- as rosas derramadas pela noite.


Hélder Macedo