Madrigal


Agar socorrida por um anjo. Musée National du Louvre
Giovanni Lanfranco


Em fim fenece o dia,
Em fim chega da noite o triste espanto
E não chega desta alma o doce encanto;
Em fim fica triunfante a tirania,
Vencido o sofrimento,
Sem alívio meu mal, eu sem alento,
A sorte sem piedade,
Alegre a emulação, triste a vontade,
O gosto fenecido,
Eu infelice em fim, Lauro esquecido.
Quem viu mais dura sorte?
Tantos males, amor, para uma morte?
Não basta contra a vida
Esta ausência cruel, esta partida?
Não basta tanta dor? tanto receio?
Tanto cuidado, ai triste, e tanto enleio?
Não basta estar ausente,
Para perder a vida infelizmente?
Se não também cruel neste conflito
Me negas o socorro de um escrito?
Porque esta dor que a alma me penetra
Não ache o maior bem na menor letra,
Ai bem fazes amor, tira-me tudo!
Não haja alívio não, não haja escudo
Que a vida me defenda!
Tudo me falte, em fim, tudo me ofenda,
Tudo me tire a vida
Pois eu a não perdi na despedida.


Violante do Céu, Rimas Várias