COTOVIA


alouette
Lulu Lagland



Alô, cotovia,
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas saudades me deixaste?

- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe…
Voltei, te trouxe alegria.

- Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.

- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Baía…
- E esqueceste Pernambuco,
Distraída?

- Voei ao Recife, no Cais
Pousei na rua da Aurora.

- Aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais!

- Os anos não, nem os dias,
que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.


Manuel Bandeira