Virava todo o seu sentir para o mar


Corais
Maria José Camões




Virava todo o seu sentir para o mar
quando no medo dos míticos promontórios
se rasgou a oceânica visão... a ânsia de partir...

remotas eram as constelações que consultara
os rostos traziam a brancura queimada das velas...
... eram palavras segredadas lendas de feras
que os dedos e a matemática já tinham assinalado nos mapas
a vida da selva a flora mole dos pântanos
os costumes tribais dos arquipélagos
a prata das planícies o mistério de caudalosos rios...

... a tempestade sacudia o granito
da sua imobilidade surgiam estes sinais transparentes
estes animais cuja pelagem de ouro a noite corroeu
e os passos alucinados pelas lajes do porto
ressoavam no medo... medo que o mar o acorde
e descubra que não existe mar nenhum...

por fim atacaram-nos as febres
as febres da alba com perfume a violeta
as febres que iluminam os sentidos
e alimentam o surdo canto dos loucos e dos búzios...


Al Berto, Salsugem