em fundo: a música do barroco



natureza morta com instrumentos de música, c.1650 Bergamo Galleria dell'Accademia Cerrara
Evaristo Baschenis



Contra as fadigas do desejo


E quem me compusera do desejo,
Que grande bem, que grande paz me dera!
Ou, por força, com ele hoje fizera,
Que me não vira, em quanto assi me vejo!

O que eu reprovo; eleje; e o que eu elejo,
Ele o reprova, como se tivera
Sortes a seu mandar, em que escolhera,
Contra as quais só por ele em vão pelejo.

Anda a voar do árduo ao impossível,
E para me perder de muitos modos,
Finge que a honra é certa no perigo.

Pois se nunca pretende o que é possível,
Como posso esperar ter paz com todos,
Quando não posso nem ter paz comigo?


D. Francisco Manuel de Melo, Obras Métricas, II