CANCELA


Gatter in den Yorkshire Dales
Thomas C. Hertel



No meio da cerca está uma cancela
também ela fechada. O ar cingiu-a
com um donaire agreste de abandono.
E a cera e a madeira nela ficam
folha de zimbro e maré vagante.
Um dia certos ombros nela assomam,
noutros certos olhos dela partem
e olho a sua sombra com os pássaros
que vão para mais longe e nos entregam
os primeiros dias em que desce a noite
mais cedo, depois vem o inverno, o acolhimento,
a repousante canção dos cães a ladrar.
A cancela tem a marca dos meus dedos,
tantas vezes a abriram, tantas a fecharam,
a própria resina fareja na distância
cada passo meu que me aproxima
cada passo de alguém que não me alcança.
Guarda-me na casa onde outrora um outro
já não traz ao teu corpo esse prazer
que me forças, no vaivém, a abrir.


Joaquim Manuel Magalhães, A poeira levada pelo vento