A noite enrosca-se-me na cintura,...
A noite enrosca-se-me na cintura, a mover-me um cerco,
a colocar-me à mercê da lua. Um trilho de água-doce
humedece a orla de uma nudez convergente com o desejo.
Perante a indiferença de toda a gente, uma mulher desceu
a montanha, prenhe de solidão. Fascinada pela noite, deixou
que lhe mutilassem as mãos, para parir sem algemas.
E doeu-lhe no peito o grito de nascer de todos os filhos,
o soluço sufocado de todas as mães. Depois, pairou no ar,
um estranho aroma de sardinheiras brancas.
Graça Pires, Reino da Lua
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