APENAS UM SONETO
Rugama
O delicado desejo que te doura
e nos dura na pele quando anoitece
é contra a nossa vida que se tece
e é no verso que vive e se demora.
Amor que não tivémos nem nos teve
veio-nos chamar agora. De repente
fez-se névoa a palavra do presente
e luz teu corpo que toquei de leve.
Mas se arde na memória da canção
o corpo que me deste e me fugiste,
o verso é outro modo de traição
por que minto ao que nunca tu mentiste.
E enganamos assim o coração,
disfarçando de mitos o que existe.
Luís Filipe de Castro Mendes, Modos de Música
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