ENDIMIÃO, ENDIMIÃO





Endimião, Endimião,
porque existes só para seres sombra
do desejo mais forte.
Apelas para o elo
que a boca bem redonda continua.
O beijo, sede de água
luminosa soando a pedra fresca
escorrida pelo rio.
Só faltam assim as mãos.
A empatia.
(O senso mais medido.)
Endimião, não quero teu busto
ao canto da casa que me ergo,
não quero a cegueira empedernida.
És, ouve bem,
a pura forma de encontrar a via,
o sono,
o canto na lonjura.
A imobilidade rasa da
resignação.
Amar-te o silêncio
é entregar-me em abismo à natureza.


Maria Alzira Seixo
in 366 poemas que falam de amor
antologia organizada por
Vasco Graça Moura