As férias


Nello Nuno, Ampulheta


Era uma rosa azul de água amarrada
Um palácio de cheiros um terraço
E uma jarra de amigos derramada
Da casa até ao mar como um abraço.

Era a intensa e clara madrugada
Com cigarras dormindo no regaço
E a ampulheta do sono defraudada
No tempo cada dia mais escasso.

Era um país de urzes e lilases
De tardes sonolentas espreguiçando
Um aroma de nardos pelo chão

E bandos de meninas e rapazes
Correndo amando rindo e adiando
A minha inexorável solidão.

Ary dos Santos, O sangue das Palavras